quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Nota do MST

Nota de esclarecimento sobre os recentes acontecimentos
Diante dos últimos episódios que envolvem o MST e vêm repercutindo na mídia, a direção nacional
do MST vem a público se pronunciar.
1. A nossa luta é pela democratização da propriedade da terra, cada vez mais concentrada em nosso
país. O resultado do Censo de 2006, divulgado na semana passada, revelou que o Brasil é o país
com a maior concentração da propriedade da terra do mundo. Menos de 15 mil latifundiários detêm
fazendas acima de 2,5 mil hectares e possuem 98 milhões de hectares. Cerca de 1% de todos os
proprietários controla 46% das terras.
2. Há uma lei de Reforma Agrária para corrigir essa distorção histórica. No entanto, as leis a favor
do povo somente funcionam com pressão popular. Fazemos pressão por meio da ocupação de
latifúndios improdutivos e grandes propriedades, que não cumprem a função social, como determina
a Constituição de 1988.
A Constituição Federal estabelece que devem ser desapropriadas propriedades que estão abaixo da
produtividade, não respeitam o ambiente, não respeitam os direitos trabalhistas e são usadas para
contrabando ou cultivo de drogas.
3. Também ocupamos as fazendas que têm origem na grilagem de terras públicas, como acontece,
por exemplo, no Pontal do Paranapanema e em Iaras (empresa Cutrale), no Pará (Banco
Opportunity) e no sul da Bahia (Veracel/Stora Enso). São áreas que pertencem à União e estão
indevidamente apropriadas por grandes empresas, enquanto se alega que há falta de terras para
assentar trabalhadores rurais sem terras.
4. Os inimigos da Reforma Agrária querem transformar os episódios que aconteceram na fazenda
grilada pela Cutrale para criminalizar o MST, os movimentos sociais, impedir a Reforma Agrária e
proteger os interesses do agronegócio e dos que controlam a terra.
5. Somos contra a violência. Sabemos que a violência é a arma utilizada sempre pelos opressores
para manter seus privilégios. E, principalmente, temos o maior respeito às famílias dos
trabalhadores das grandes fazendas quando fazemos as ocupações. Os trabalhadores rurais são
vítimas da violência. Nos últimos anos, já foram assassinados mais de 1,6 mil companheiros e
companheiras, e apenas 80 assassinos e mandantes chegaram aos tribunais. São raros aqueles que
tiveram alguma punição, reinando a impunidade, como no caso do Massacre de Eldorado de Carajás.
6. As famílias acampadas recorreram à ação na Cutrale como última alternativa para chamar a
atenção da sociedade para o absurdo fato de que umas das maiores empresas da agricultura - que
controla 30% de todo suco de laranja no mundo - se dedique a grilar terras. Já havíamos ocupado a
área diversas vezes nos últimos 10 anos, e a população não tinha conhecimento desse crime
cometido pela Cutrale.
7. Nós lamentamos muito quando acontecem desvios de conduta em ocupações, que não
representam a linha do movimento. Em geral, eles têm acontecido por causa da infiltração dos
inimigos da Reforma Agrária, seja dos latifundiários ou da policia.
8. Os companheiros e companheiras do MST de São Paulo reafirmam que não houve depredação
nem furto por parte das famílias que ocuparam a fazenda da Cutrale. Quando as famílias saíram da
fazenda, não havia ambiente de depredações, como foi apresentado na mídia. Representantes das
famílias que fizeram a ocupação foram impedidos de acompanhar a entrada dos funcionários da
fazenda e da PM, após a saída da área. O que aconteceu desde a saída das famílias e a entrada da
imprensa na fazenda deve ser investigado.
9. Há uma clara articulação entre os latifundiários, setores conservadores do Poder Judiciário,
serviços de inteligência, parlamentares ruralistas e setores reacionários da imprensa brasileira para
atacar o MST e a Reforma Agrária. Não admitem o direito dos pobres se organizarem e lutarem.
Em períodos eleitorais, essas articulações ganham mais força política, como parte das táticas da
direita para impedir as ações do governo a favor da Reforma Agrária e "enquadrar" as candidaturas
dentro dos seus interesses de classe.
10. O MST luta há mais de 25 anos pela implantação de uma Reforma Agrária popular e verdadeira.
Obtivemos muitas vitórias: mais de 500 mil famílias de trabalhadores pobres do campo foram
assentados. Estamos acostumados a enfrentar as manipulações dos latifundiários e de seus
representantes na imprensa.
À sociedade, pedimos que não nos julgue pela versão apresentada pela mídia. No Brasil, há um
histórico de ruptura com a verdade e com a ética pela grande mídia, para manipular os fatos,
prejudicar os trabalhadores e suas lutas e defender os interesses dos poderosos.
Apesar de todas as dificuldades, de nossos erros e acertos e, principalmente, das artimanhas da
burguesia, a sociedade brasileira sabe que sem a Reforma Agrária será impossível corrigir as
injustiças sociais e as desigualdades no campo. De nossa parte, temos o compromisso de seguir
organizando os pobres do campo e fazendo mobilizações e lutas pela realização dos direitos do povo
à terra, educação e dignidade.
São Paulo, 9 de outubro de 2009
DIREÇÃO NACIONAL DO MST
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Secretaria Geral
Escritório Nacional do MST/RJ
Rua Pedro I, Sl 803, Centro, Rio de Janeiro/RJ
Fone: (21) 2240.8496

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