A UNIDADE QUE NECESSITAM OS JOVENS PARA SAIR DA ENCRUZILHADA
Por: GIOVANNI A. LIBREROS J.
Secretário Geral
Juventude Comunista Colombiana (JUCO)
Os jovens tem sido o setor mais dinâmico no confronto contra a “era Uribe”. Isso é lógico. Historicamente a juventude tem encarnado valores que vão além do seu tempo. Já havia advertido há muitos anos o inesquecível Salvador Allende: “ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição até biológica”. Este é um aspecto que o latifundiário de chapéu aguadenho e carriel pendurado – declarado o “melhor da Colômbia” por uns quantos puxa-sacos no município de Aguadas – nunca perdeu de vista. Por meios distintos trataram de convencer a opinião pública de uma suposta identificação dos jovens com os valores de tradição, família e propriedade. Quão equivocados e como tão rapidamente tiveram de arquivar essas “prestigiosas investigações jornalísticas”. Não houve universidade ou fórum em que o homem de “inteligência superior” – segundo os renomados assessores do palácio – tivesse que enfrentar a implacável critica da juventude. Por trás das manifestações de inconformidade encontra-se todo um sentimento de repulsa as políticas do seu governo. Partindo da base que qualquer estatística oficial ou não oficial será sempre objeto de controvérsia, é necessário entrar diretamente ao debate político.
Dos 20 milhões de pobres e 8 milhões de indigentes em nosso país (Colômbia), os jovens representam 44,4% da população pobre e 15,3% da população indigente, a mais alta da América Latina, segundo cifras da CEPAL de 2008. Nosso país ocupa o quarto lugar do mundo com maior número de crianças e adolescentes vinculados a uma guerra interna depois do Congo, Ruanda e Mianmar. A CEPAL assegura que na Colômbia as possibilidades para que um jovem morra assassinado são cinco vezes maior que a média no continente. Muitas das mortes estão associadas às execuções extrajudiciais os mal chamados “falsos positivos”. Do total de mortes violentas no pais, 20% são de jovens. Cerca de 75% da mortalidade juvenil está associada a causas violentas e pelo menos 15% dos jovens no país já pensou em suicidar-se.
Não é para menos... A situação dos jovens é cada vez mais critica. Segundo cifras da ONU, na Colômbia existem 1,6 milhões de crianças e adolescentes fora do sistema educacional. Sendo que 30% dos estudantes que se matriculam em estudos de educação superior, somente 15% chegam a graduar-se. Segundo o DANE o desemprego da população entre 14 e 26 anos é de 23%. Para as mulheres nesta faixa etária esse número sobe para 31%. Cerca de 94% dos jovens trabalham na informalidade. Três quartos dos jovens que trabalham tem seus direitos trabalhistas violados, recebendo valores abaixo do salário mínimo. Em matéria de saúde somente 6 em cada 10 jovens encontram-se cobertos pelo regime de saúde, levando-se em conta que os menores de 18 anos estão em qualidade de beneficiários dos seus pais. Com relação a participação política, o mesmo estudo da CEPAL de 2008 assegura que somente 6% dos jovens colombianos participam de algum partido político e 3% dos jovens participam de algum sindicato. A política do governo ao invés de atacar as causas sociais e econômicas da crise da juventude colombiana, aperfeiçoa os instrumentos para a coação e represão, com medidas como a responsabilidade penal para adolescentes entre 14 e 18 anos, estabelecidas na lei de infância e juventude.
Porém a ameaça uribista não para por ai. A concepção uribista pretende controlar até o livre exercicio da sexualidade. Diante do problema de gravidez na adolescência ao invés de definir medidas de saúde pública, limita-se a dizer que os jovens devem “aguentar a vontade”, enquanto se recusa a implementar diretrizes que obriguem as instituições educativas a promover métodos anticonceptivos e informar as adolescentes sobre os três casos nos quais o aborto é discriminalizado. No Congresso também aprovou-se uma reforma constitucional que penaliza o porte e o consumo de doses minimas de psicotrópicos, fortalecendo assim as politicas de estigmatização e militarização da vida juvenil. Mas o fascismo social de Uribe pretende ir ainda mais longe. Atualmente tramitam no Congresso duas iniciativas que ainda são mais conservadoras para os direitos dos jovens, como o projeto de lei sobre toques de recolher para jovens entre 14 e 18 anos, e o projeto de lei conhecido como “anti-gangues” que pretende introduzir a noção de terrorismo para um fenômeno que não pode ser tratado sob uma visão de preconceito e estigmatização. Atravessamos um momento muito interessante para a confrontação contra o projeto da ultra-direita colombiana. Uribe aproveitando-se das necessidades dos jovens – certamente geradas por sua politica – pretende agora converte-los em “bodes expiatórios” da politica de “segurança democrática”, para vincular-los por esta via a defesa do seu projeto facistóide.
Mas a questão não termina ai. A crise da saúde e das universidades públicas somadas ao aumento do desemprego e da informalidade pressionam aspectos muito sensíveis das famílias e da população em geral. Não podemos esquecer do aumento dos alimentos e dos serviços públicos que se relacionam perigosamente com o aumento dos impostos e o desmonte dos subsídios ao combustível. Como pano de fundo encontra-se a agudização do conflito armado, a entrega da soberania com as 7 bases gringas e a preparação de um conflito armado com a irmã República Bolivariana da Venezuela. A coalizão do governo está convencida de que pode levar adiante este pacote de medidas e ganhar a segunda reeleição sem problemas. Estão encantados pelas pesquisas de popularidade e pela eficácia do efeito “blindagem” já demonstrado em outra épocas.
Sem dúvida o curso das atuais tendências parece apontar um rumo diferente. Na juventude existem realinhamentos e reagrupamentos. Esta situação ficou evidenciada no marco do Festival Nacional da Juventude. Observam-se tendências que buscam conciliar à política de juventude com o atual governo e outras que se opõem abertamente a ela, para além da dualidade entre esquerda e direita. Por outro lado emerge um amplo campo democrático que se agrupa em iniciativas como a Coordenadoria Distrital da Juventude em Bogotá e no Espaço de Coordenação de Iniciativas por uma Plataforma Nacional de Juventude. No ano do Bicentenário a aposta da unidade está na mobilização social para derrotar o modelo neoliberal, autoritário e guerrerista e na reconquista das liberdades democráticas e dos direitos da juventude colombiana. Requer-se a mais ampla unidade, mas ao mesmo tempo a mais firme decisão de não fazer concessões às pressões feitas pelas manobras uribistas. Como afirmava o grande desenhista argentino Quino: “tomara que algum dia deixem os jovens inventar sua própria juventude”.
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